O show não pode parar…

 Já faz um bom tempo que eu venho me sentindo mal. Eu sei que nunca fui a pessoa com o emocional mais estável, mas eu sempre mantive minha força em minha personalidade, e todas as minhas falhas, todos os meus defeitos, todos os meus medos e receios… eu sempre os guardei para mim. Sempre procurei me manter forte diante de todos, pois eu sei como é se sentir frágil, e não encontrar um muro, não encontrar algo ou alguém que seja forte o suficiente para se firmar. Sempre procurei ser esse muro para todas as pessoas que amo, sempre quis me manter firme, independente de minhas aflições, para que as outras pessoas pudessem se sentir bem, e para que eu mesma pudesse me sentir melhor ao ouvir um “muito obrigada por me sustentar”.
 Apesar de toda a minha força, apesar de todos acharem que eu sempre fui uma menina inabalável e cheia de si, eu sempre fui quebrada, sempre tive meu coração partido. Partido com várias feridas, que permaneceram com o tempo, e jamais conseguiram cicatrizar totalmente. E então, eu fui ficando frágil, fui ficando quebradiça, instável… destruída. E eu achava que o mais importante era apenas seguir em frente. Por mais que pedaços de mim fossem ficando para trás, eu conseguiria restaurar as feridas de minha alma mais adiante.
 Por mais partida que eu estivesse, eu continuava no meu vício de sustentar à todos a quem eu amava. Acreditava que isto não me faria mal, pelo contrário, poderia me realizar com a felicidade dos outros, poderia me completar ao ver os outros completos. E continuava a seguir em frente, na certeza de que, um dia, eu poderia ser sustentada. Que um dia, enfim, meu coração encontraria o apoio que tanto precisava e que eu repousaria no colo de alguém que me ajudaria a cicatrizar todas as minhas feridas. Esse parece ser o desejo de todos, não é? Encontrar alguém, simplesmente. Mas parece ser tão bobo agora. Por que por mais que eu depositasse minha certeza no amanhã, por mais que eu tivesse pessoas ao meu redor me mostrando o quão forte eu era, eu ainda permanecia sozinha, como sempre. Eu ainda continuava sem entender o por quê… Até quando eu teria que esperar para entender tudo? Até onde eu teria que caminhar sozinha? Eu não queria mais caminhar sozinha, mas não queria ser traída. Mas a trilha sonora de minha vida permanecia sendo esta, como sempre foi. Eu estava sozinha, sempre estive sozinha.
 Foi então que eu senti que quebraria de vez. Este pequeno corpo, ele não suportaria tamanha dor que habitava dentro de mim. Como eu poderia permanecer desta maneira? Como alguém poderia caminhar enquanto se despedaçava. Entretanto eu continuei e sempre só… E fingia não me importar, enquanto, por dentro, minha vontade era de gritar. Como eu poderia gritar? Não me era permitido. Eu não me permitia, há partes de nós que não mostramos à mais ninguém. Existem segredos escuros dentro de cada coração, que devem permanecer ocultos. Mas eu me sentia transbordar. Sentia como se eu fosse me dissolver, a qualquer momento. Alguém! Por favor! Eu apenas queria alguém que segurasse minhas mãos e impedisse meus machucados. Eu apenas gostaria que alguém me sustentasse, alguém que curasse minhas feridas e, principalmente, que não deixasse eu me machucar novamente. Não queria me machucar nunca mais. Mas eu precisava transbordar, precisava gritar… e na dor… na dor de cada corte, era como um grito silencioso. Uma confissão, secreta. As marcas, elas todas estavam ali, expostas, para quem quisesse ver. Aquele era meu grito. Aquele era meu desespero. Era meu apelo. Mas ninguém o viu… Ninguém o sustentou. Ninguém notou, ou talvez, não fosse importante.
 Eu me odiava. Certo, ainda me odeio. A cada dia, eu apenas queria me esvaziar, deixar todo esse peso para trás e ir para onde o vento me ergueria. Como pode um corpo tão pequeno pesar tanto? Como eu pude chegar tão fundo, tão longe? E então… A vida havia sorrido para mim. Será? Será que finalmente eu havia encontrado alguém para me sustentar? E eu tentei, tentei com todas as minhas forças perseguir esse sonho, essa pessoa que era tão deslumbrante aos meus olhos. Ainda me culpo, por tudo. Eu fui egoísta, assim como da primeira vez. Acreditava que não queria alguém para compartilhar um amor, mas simplesmente alguém para me segurar. No entanto, amar não é isso? Amar não é ambos os lados permanecerem, se sustentarem, se guiarem, até que seus caminhos, antes distintos, formem um só, e suas vidas, antes incompletas, tornem-se um apoio continuo? Por que então a minha dor aumentava? Esta solidão, era totalmente diferente da solidão que eu sentia antes, mas ainda assim era uma solidão. Minhas lágrimas estavam mais pesadas, mas eu permaneci. E entendi que não poderia continuar ali. Aquela solidão, aquela solidão observada… eu não queria mais julgamentos, não queria mais dedos apontados… Então! Eu optei pela minha solidão antiga de volta. Eu preferi sofrer apenas comigo.
 Eu sempre evitei permanecer com marcas externas, eu detesto responder perguntas sobre meu íntimo, sobre meu ser. Por mais quebrada que eu estivesse, deveria ser culpa minha. Apesar desses pensamentos rondarem minha mente, retirei forças de um lugar desconhecido, e me ergui, e me decidi. Eu não poderia continuar assim. A culpa não era minha, eu havia tentado, havia dado o melhor de mim. Já era um peso grande demais cuidar da minha própria dor, não queria mais sofrimento causado por relações incertas, por injúrias, por mentiras. Nunca desejei uma história de amor cheia de idas e vindas, altos e baixos, encontros e desencontros. Eu apenas queria calmaria. Minha alma clama por calmaria… E então, eu ergui minha cabeça, por mais doloroso que tenha sido naquele momento e por mais que minha estima não me permitisse isso, eu entendi e expus: eu fiz tudo que eu pude e a culpa não foi minha, simplesmente há mágoas que não são esquecidas, e isso não é um defeito meu, é uma qualidade. Isto mostra o quão humana eu posso ser…
 Mas então, eu estava sozinha novamente. E desta vez, com novas dores, novas cicatrizes… pior ainda, as mágoas antigas, as dores mais profundas, que por tanto tempo eu tentei curar, transbordaram novamente. E eu era de novo o lixo, a solidão, o medo. Por que o medo me habita? Por que não posso ser normal? Por que tantas perguntas? E novamente eu me sinto amedrontada. Acho justo explicar agora, depois dessa confissão, o que eu sinto que sou. O que eu sinto apenas. Às vezes eu tenho a sensação de que não habito o meu corpo. Sinto como se ele fosse uma carcaça, algo que não deveria ser como é. Também me vejo fora dele. Tem dias que eu tenho uma agonia tão grande, que eu chego a sentir meu peito contrair de dor. E minhas costas, elas sempre doem, sempre estão pesadas, como se o mundo estivesse sob elas. Sinto-me tão horrível, tão desmotivada. Tão sem vontade de continuar. Isto todos os dias, todo o tempo. Há, no entanto, dias em que as crises fortes aparecem, e eu choro descontroladamente, sem motivo aparente. Simplesmente choro e tenho a sensação que morrerei, simplesmente. Há uma agonia, um desespero. “Para, por favor!”, eu peço. “Força, Hannah, não há nada acontecendo com você”, repito para mim mesma. E então, passo horas assim e, quando paro, parece que minha alma saiu de meu corpo, e apenas uma casca rodeia. Sinto gosto de sangue, cheiro de sangue, vejo sangue. Não deveria ser assim, não percebo que é assim. Apenas me sinto horrível o tempo todo, sinto que não deveria ser como sou. Sinto-me incapaz, burra, frustrada: nunca realizarei meus sonhos. Por mais que eu tenha muito tempo ainda, ele será vazio.
 Mas eu permaneço. Na multidão, meu sorriso encanta, e a única sombra é a de voltar para meus medos. E eles sempre voltam, no escuro, no silêncio, ou em qualquer momento aleatório, como este em que escrevo. Mas eu continuo, com máscaras, apenas em frente. Não importam os objetivos, eu não chegarei. Não importa o percurso, por que sempre serão apenas um par de pegadas. Apenas devo andar…
E se tem uma música para me selar, se tem uma letra para me definir… ela é a The Show Must Go On…

8 comentários sobre “O show não pode parar…

  1. nossa, vc me tocou agora,
    e não sei porque , parece que vc
    descreveu a minha vida, isso sempre
    acontece comigo, e sempre que estou
    perto de encontrar algo para firma, me pego
    sabotando o que poderia me segurar
    talves porque não quero sentir mais dor
    igual a que eu sinto, e então me saboto e volto a solidão ..
    beijos *-*

    ah, ja ia me esquecendo
    eu estou ajudando uma pessoa a divulgar seu livro
    seria muito importante para eu se vc deixasse la sua opinião,
    http://passosmaisperto.blogspot.com.br/

    Curtir

Deixar mensagem para Vanda Ramos Cancelar resposta