Sobre as mudanças em nós

É curioso como somos seres fluidos, sempre numa constante de mudanças. Isso, é claro, só acontece quando nos mantemos abertos a sermos tomados por novidades: novos pensamentos, novas ideias, novos comportamentos, novas opiniões… Eu era muito machista há uns anos atrás. Era do tipo de guria que abominava as meninas mais “femininas” e achava um grande elogio quando os meus amigos falavam que eu era tão legal que era quase um homem. Gostava de ser a exclusiva no meio masculino e não acreditava no vitimismo feminino: se um homem atacou uma mulher, ela com certeza tinha feito por onde.

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Por sorte eu nunca tive problemas em mudar diante de bons argumentos, sempre recebi a mudança como uma velha amiga: de braços abertos. Infelizmente, em alguns momentos, a vida me deu uns tapas bem fortes – tive que enxergar as coisas sob outro ponto de vista de modo dolorido. Tive que passar por relacionamentos abusivos para entender que se uma pessoa ataca a outra, essa outra é sim vítima. Que quando seu namorado te busca para ir no cinema, reprova sua roupa, vai até seu guarda-roupas e escolhe a roupa que você tem que vestir, as coisas precisam ser pensadas. Que quando um cara te exibe de troféuzinho pros amigos por que “eu tenho uma namorada que joga videogames”, talvez tenha alguma coisa errada aí. Ou então quando você passa por ameaças reais na rua, simplesmente por ser mulher e por existirem homens que acreditam na supremacia masculina… Aí começa a não ter jeito: é preciso repensar suas ideias.

Ainda bem, minha vida sempre foi companheira da mudança, e até hoje eu entendo que viver é isso mesmo. Apenas nos últimos meses eu criei coragem de me assumir feminista. Recentemente, bem recentemente, eu comecei a ficar ainda mais tolerante e exercer, de fato, a empatia. Você, mulher, quantas vezes já sentiu ciúmes do seu namorado, marido, companheiro, e ficou com raiva da mulher “responsável” pelo seu ciúme? Afinal, se ela não existisse, seu companheiro não ficaria de papinho com ela e… Ou talvez, será que não é o seu parceiro que deveria te passar segurança (e respeito)?

Quantas vezes invertemos o lado da culpa para a vítima? Mas então um dia, percebemos que corremos risco de ter nossa dignidade (ou pior, nossa vida) perdida apenas por ser mulher. Por que em algum momento, um homem vai ter a certeza de que ele é soberano sobre você e qualquer coisa que você faça contra a vontade dele é justificativa para que ele seja obrigado a te colocar no eixo. Por que você, mulher, deveria se dar ao respeito. Essa sua roupa era curta demais, você tem a obrigação de satisfaze-lo, quem te deu o direito de exigir respeito a ele?

Parece que estamos numa caverna.

Entretanto, você pode ter a mesma sorte que eu de sair dessa jaula e se libertar dessas amarras. De conhecer pessoas que te ensinam, e principalmente que estejam dispostas a aprender com você. Que te respeitam. E você volta a essa constante de mudanças e aprendizados que é a vida, com um sorriso sereno de batalha vencida e a certeza madura de que outras batalhas virão. Tenho aprendido a respirar fundo em meus momentos de fúria. A respeitar mulheres como os seres humanos que são. Ter empatia por pessoas que não conheço. Repensar a origem de sentimentos como ciúme, insegurança, medo… Dar espaço a mais momentos de vazio e calmaria, e abertura a turbilhões de sentimentos.

A vida é dura. Viver é difícil. É sobre caminhar cada hora com pessoas diferentes. É sobre aprender a ir cada dia mais perto do fim. Tenho passado por angústias aparentemente sem fim e constantemente me pego perguntando: “Por que tenho que me conformar que ‘amanhã’ as coisas melhorarão? Por que as coisas não podem melhorar agora? Por que tenho que viver em busca desse futuro de felicidade plena que nunca chega?”.  Por que estar na vida é sobre correr riscos. É sobre momentos de riso em contraste com choros intermináveis no travesseiro, e você tem que acordar bem no dia seguinte para falar com as pessoas, mesmo que seu coração esteja pesado e sua cabeça fervilhando de pensamentos. Não sabemos como viver, mas temos que fazê-lo, e tentamos. E erramos, e caímos e choramos. E somos tocados e ressoados. E mudamos. Todos os dias.


Ás vezes a gente sente uma necessidade muito grande de colocar algumas coisas em palavras, não é? E agora senti-me assim. Tenho sentido muita saudade do blog, eu amo isso daqui! Mas a minha vida tem andado muito turbulenta e cada nova tentativa de frequência aqui sempre acaba em fracasso. Por isso, dessa vez, não vou prometer postar sempre, vou apenas deixar a aba do blog aberta e, qualquer nova inspiração, eu venho aqui e posto – sem forçação de barra, sem compromisso. E espero que quem gosta das coisas que posto não se importem com isso, mas foquem em apreciar o conteúdo.

Em nota, estou na fase final do meu caso de amor e ódio, o trabalho de conclusão de curso da faculdade. A qualquer momento esse filho será parido. Aguardem novos capítulos.

Com carinho,

Hanninha

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