O Pequeno Príncipe

Well, como os meus amigos mais próximos sabem (ou deveriam saber :P), um dos meus livros favoritos é Le Petit Prince (O Pequeno Príncipe, em Português), escrito por Antoine de Saint-Exupéry em 1940. Por que é o meu favorito? Ao invés de explicar, decidi digitar o livro aqui, junto a suas ilustrações originais. Avisando que o meu livro é a 48ª edição / 27ª impressão. Colocarei tudo na íntegra, e espero que apreciem a leitura.
Para não ficarem enormes os posts, publicarei um capítulo por vez.
Abraços a todos!

O Pequeno Príncipe
Antoine de Saint-Exupéry
A LÉON WERTH
Peço perdão às crianças por dedicar este livro a uma
pessoa grande. Tenho um bom motivo: essa pessoa grande
é o melhor amigo que possuo. Entretanto, tenho um outro
motivo: essa pessoa grande é capaz de compreender todas
as coisas, até mesmo os livros de criança. Tenho ainda
um terceiro: essa pessoa grande mora na França e ela
tem fome e frio. Ela precisa de consolo. Se todos esses
motivos não bastam, eu dedico então este livro à criança
que essa pessoa grande já foi. Todas as pessoas grandes
foram um dia crianças – mas poucas se lembram disso.
Corrijo, portando, a dedicatória:
A Léon Werth
quando ele era criança.

I

Certa vez, quando tinha seis anos, vi num livro sobre a Floresta Virgem, Histórias Vividas, uma impressionante gravura. Ela representava uma jibóia engolindo um animal. Eis a cópia do desenho:
Dizia o livro: “As jibóias engolem, sem mastigar, a presa inteira. Em seguida, não podem mover-se e dormem os seis meses da digestão.”
Refleti muito sobre as aventuras da selva, e fiz, com lápis de cor, o meu primeiro desenho. O meu desenho número 1. Ele era assim:
Mostrei minha obra-prima às pessoas grandes e perguntei se o meu desenho lhes dava medo. Responderam-me: “Por que é que um chapéu daria medo?”
Meu desenho não representava um chapéu. Representavam uma jibóia digerindo um elefante. Desenhei então o interior da jibóia, a fim de que as pessoas grandes pudessem entender melhor. Elas têm sempre necessidade de explicações detalhadas. Meu desenho número 2 era assim:
As pessoas grandes aconselharam-me a deixar de lado os desenhos de jibóias abertas ou fechadas e a dedicar-me de preferência à geografia, à história, à matemática, à gramática. Foi assim que abandonei, aos seis anos, uma promissora carreira de pintor. Fora desencorajado pelo insucesso do meu desenho número 1 e do meu desenho número 2. As pessoas grandes não compreendem nada sozinhas, e é cansativo, para as crianças, estar a toda hora explicando.
Tive então que escolher uma outra profissão e aprendi a pilotar aviões. Voei por quase todas as regiões do mundo. E a geografia, é claro, me serviu muito. Sabia distinguir, num relance, a China e o Arizona. Isso é muito útil quando se está perdido na noite.
Dessa forma, ao longo da vida, tive vários contatos com muita gente séria. Convivi com as pessoas grandes. Vi-as bem de perto. Isso não melhorou muito a minha antiga opinião.
Quando encontrava uma que me parecia um pouco esclarecida, fazia a experiência do meu desenho número 1, que sempre conservei comigo. Eu queria saber se ela era na verdade uma pessoa inteligente. Mas a resposta era sempre a mesma: “É um chapéu.” Então eu não falava nem de jibóias, nem de florestas virgens, nem de estrelas. Colocava-me no seu nível. Falava de bridge, de golfe, de política, de gravatas. E a pessoa grande ficava encantada em conhecer um homem tão versátil.

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